segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Jardins da minha aldeia - Silveira dos Limões


 Depois deste longo tempo de ausência sem publicar nenhum post, cá estou com mais um novo escrito. Um poema que é uma forma singela, mas verdadeira de homenagear as pequenas aldeias da Beira Baixa, e todos os que trabalham, por iniciativa própria e voluntariamente, para as manterem com uma memória viva de outrora, cujos nossos olhos possam vislumbrar, nossas mãos tactearem, uma humilde casita construída com pedras de xisto, o forno comunitário onde semanalmente os aldeões coziam o pão, a eira onde  as massarocas de milho eram malhadas, e tantos outros vestígios de uma cultura que infelizmente foi mal preservada.
Da minha infância submergem-me imagens nítidas. Com oito ou nove anos de idade encavalitado na pasteleira do meu avô, pedalando com imenso esforço a bicicleta demasiada pesada para o meu corpo franzino, porém, quando descortinava uma aldeia e circulava pelas ruelas, uma espécie de deslumbramento apoderava-se magicamente do meu espírito de criança. As casas de paredes meio tortas de pedras de xisto, o silêncio intenso rasgados pelas vozes dos homens e mulheres de rostos lavrados que me olhavam com curiosidade, “Bom dia”, “Gaiato, quem são os teus avós”. Não sei bem se imaginava o presépio ou um conto de fadas, mas tudo aquilo contrastava com a cidade de Lisboa e, por isso, viajava num mundo de fantasia e encantamento.
E agora tento reencontrar esses lugares, no entanto, é com tristeza que descubro que a magia de outrora da maioria das aldeias foi abruptamente devorada pelo ferro, pelo cimento, pelos tijolos… É por isso que me alegra vislumbrar alguma aldeia que guarda ainda um bocadinho desse passado, aliás, um passado que é de todos nós, portugueses, que é parte integrante do nosso património.
E por hoje fico por aqui… Quem sabe se um dia destes volto a escrever recordações do tempo em que o meu olhar se fundia nas estrelas suspensas no firmamento e o meu espírito se diluía no silêncio embalado pela melodia das cigarras e grilos… E então o instantaneamente o universo ficava perfeito, e eu sentia o infinito, a eternidade…


Canteiros de xisto

Pedras agrestes, rudes, selvagens…
Mas belas,
Emoldurais as mais harmoniosas flores.
E que memórias guardareis?
Mãos calejadas,
Braços fortes,
Arrancando-vos das pedreiras…
E depois empilhando-vos em longos muros
Ao redor das hortinhas, das grandes herdades…
Ou pedra sob pedra,
Ergueram-vos nas elegantes paredes,
Que edificaram as humildes casas de xisto.
Mas nos tempos modernos substituíram-vos por ferros, tijolos…
E pobres meninas,
Que vos abandonaram nas barrocas,
Escondidas entre estevas e silvas…
E agora novamente olhos de poeta descobriram-vos
e mãos de artista transmutaram-vos nos divinais jardins da minha aldeia.
Resplandecei harmonicamente com o cosmo, para todo o sempre!

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E agora deliciem-se com as fotografias de Hélder de Pina Nunes