quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Férias...

Quando viajo de automóvel ou comboio, tenho a sensação que o panorama é a extensão da minha consciência ou uma projecção da mente.
Apesar do ar condicionado do carro soprar uma brisa refrescante, o calor das planícies alentejanas, rude como a cortiça dos sobreiros, entranha-se-me na pele, porém meu espírito continua leve, embalado pelo doce aroma da maresia que vem da costa algarvia.
Faz hoje oito dias que eu e meus pais fizemos uma directa, Castelo Branco / Vila Moura, aliás, aldeia da Silveira dos Limões até à referida vila do sul do país. Com a mania do meu pai chegar o mais rápido possível ao destino, só fizemos uma paragem obrigatória, cinco minutos para esvaziarmos a bexiga.
Meu pai liga o rádio, prefiro o sossego do silêncio. Lá fora as escacas árvores e o restolho baixo fogem no tempo para trás, mas o passado está vivo na minha memória, estagnado. Há novamente silêncio, ouve-se apenas o roncar monótono mo do motor do carro. Ainda bem, preciso de organizar as ideias.
E, quando finalmente terminámos a longa viagem, esperávamo-nos uma família maravilhosa. Meus primos, o João e a Alice com as suas filhas, a Patrícia e a Catarina. Que melhores boas vindas poderíamos ter tido? Sorrisos que deflectiam a beleza e bondade de quatro corações unidos. Palavras para quê? Eu diria um sorriso sincero diz tudo o que vai na alma.
A superfície alentejana parece não ter fim, mas uma curva que faz balançar o automóvel, expulsa-me as divagações. Foram tantas, tantas, as emoções desse dia, imensas.
E ainda nos aguardavam os meus tios, Ricardo e a Aurora. Passámos o portão e vislumbrámos um lindo jardim relvado com uma magnífica piscina, a moradia branca, arquitectura tipicamente algarvia, integrada na natureza cuja florestação é maioritariamente constituída por enormes pinheiros mansos. Enfim um lugar paradisíaco. Depois veio o almoço e, enquanto dava ao dente, pensava, pensava em tantas coisas, “Como sou uma pessoa abençoada com as dádivas com que a vida me tem prendado.”, “Sim, porque existem momentos tão grandiosos que superam todo o sofrimento a que já fui submetido.”, “Dizem que existem pessoas ricas mas que interiormente são de uma extrema pobreza, no entanto, o inverso também é verdade, e esta família é um exemplo vivo.”, “A abundância só pode ser o reflexo do brilho dos seus espíritos que, sem dúvida, são grandiosos.”. Lembrei-me ainda do que dizem os budistas que não devemos guardar os sentimentos bonitos e sinceros porque a única certeza desta vida é a morte e nunca se sabe quando chega esse derradeiro momento… Então agradeci-lhes por me receberem com tanta ternura, sorriram dizendo que a honra era deles em me terem no seu lar. Acho que aqui o meu coração deve ter querido saltar do peito, mas as emoções desse dia ainda não tinham terminado.
Quantos quilómetros já passaram? Não sei, mas foram imensos em que estive ausente desta viagem de regresso à Silveira dos Limões. Évora, Évora que me faz voltar ao momento presente. Quando cruzo estas ruas lembro-me sempre do livro de Virgílio Ferreira, “Aparição”, e prometo que um dia venho visitar a cidade. Atravessamos as muralhas. Preciso de me concentrar, acabar de escrever estas linhas, estes pensamentos que rabisco na minha mente.
Ah! É verdade a Maria, que é a empregada dos meus primos, tratou-nos sempre com imensa gentileza.
E lá para o meio da tarde ouvi as palavras firmes do João, “Vamos para o mar.”.
Embarcámos na linda marina de Vila Moura. Meu primo assumiu o controlo do barco, eu, meu pai e meu tio acomodámo-nos na embarcação, tarefa fácil já que os seis metros por quatro tinham espaço mais do que suficiente para quatro passageiros.
As muralhas da doca ficaram para trás. O potente motor fazia deslizar o barco por um mar calmo, quase chão. Respirei profundamente o doce aroma salgado do oceano e deixei que o meu olhar percorresse as águas até se fundir na linha do horizonte. Senti a vastidão do mar, do céu e do infinito. Os ondulantes reflexos dourados que dançavam com suavidade na superfície, faziam-me mergulhar em lembranças do tempo em que amava o mar. Mas havia algo muito mais significativo que me fazia pulsar o coração com força. Era o facto de, havia um ano e sete meses, ter sido submetido a uma cirurgia que me permitiu recuperar parcialmente a visão. E, por isso, para mim foi uma tarde demasiada comovente.
Quando desembarcámos já o sol se afundava no horizonte.
Há uma curva longa à direita e passamos por baixo de um viaduto. O carro roda pela rua principal da aldeia de Alvaiade, sinal de que estamos quase a chegar à Silveira dos Limões e a viagem está a terminar.
Também não ia descrever aqui detalhadamente os oito dias que passei no Algarve. Mas foram magníficos!
Às pessoas citadas nesta pequena narrativa, desejo-lhes algumas coisas.
Que através das boas acções continuem a ter uma vida repleta de paz e felicidade, para depois lá no outro plano encontrarem tudo de bom, segundo as vossas crenças. Mas com a certeza, como alguém um dia disse, lá não é diferente daqui, lá é a continuidade desta vida.
E, como creio na reencarnação, desejo-vos que as vossas vidas futuras sejam abençoadas. Sem dúvida que vão ser, porque acções positivas, só podem dar bons frutos seja ainda na actual reencarnação ou nas futuras.
João depois, numa próxima oportunidade, continuamos essa conversa sobre o tempo ser ilusório. Já há mais de quatro mil anos que os sábios e filósofos orientais afirmam que no cosmo não existe tempo, que o tempo é uma ilusão. E agora a física, principalmente a física quântica vem ao encontro da mesma verdade espiritual.
Bom, a viagem está mesmo a terminar.
Mais uma vez, bem aja, que as vossas vidas sejam abençoadas.