sábado, 29 de janeiro de 2011

Prefácio


Duas Palavras de Abertura

Fernando Nunes propõe-se publicar este que julgo ser o seu primeiro livro: Sombras da Alma. Uma obra que revela um espírito questionador e inconformado perante os enigmas, os paradoxos, as arbitrariedades e as injustiças de que a vida é entretecida.
Não conheço pessoalmente o Autor. Mas sei-o Alguém que, perante os infortúnios que lhe bateram à porta, limitando-lhe alguns sentidos e faculdades, não se deixou abater num passivo e fatalista baixar de braços. Antes, como que descobrindo novas, redobradas e insuspeitadas energias, superou as ciladas da natureza, exponenciando a força interior de que se sentia – e sente – possuído.
Este recurso à escrita é disso prova insofismável. Fernando Nunes procura nela um como que contraponto às adversidades; um exercício compensatório e catárctico de uma condição que lhe coarcta significativamente a fruição das alegrias, das belezas e dos prazeres que a natureza prodigaliza. Embora aqui e ali, mais em entrelinhas, insinue um subtil sentimento de inconformismo, raramente de revolta, – o que ressalta da globalidade destes textos é uma tenaz e entusiasmada atitude de aposta na vida, nos seus valores e nos seus apelos: o amor, a amizade, a alegria, o encanto, o deslumbramento.
Um dos aspectos mais relevantes destes textos (chamemos-lhes textos à falta de uma arrumação formal bem definida) consiste em estabelecer um nexo muito frágil e diluído entre ficção e realidade. O Autor funciona como que um demiurgo que põe e dispõe sobre as suas personagens, projectando-se nelas. É o que se passa logo no episódio inicial, com a personagem Jéssica, onde podemos ler:
“Estou a inventar tudo, estou a escrever um conto”, para logo advertir: “Devias saber que por vezes as personagens ganham vida própria”. Jéssica acaba por “sair do conto” para assumir existência real e um envolvimento amoroso.
O Autor-narrador, que transversalmente exerce a profissão de tatuador, sobretudo de símbolos esotéricos e tribais que para além do grafismo epidérmico exprimam uma imagem interior do tatuado, movimenta-se num mundo de contra-cultura transgressiva e num certo casulo onírico onde digere as suas fantasias, os seus desejos e frustrações. Toda uma gama de situações e estados de alma induzida pelo álcool, a nicotina e as ganzas; a adrenalina dos desportos radicais que levam à morte; os impulsos eróticos que, em comportamentos desviantes, levam à mais infame e degradante actividade pedófila.
Mas nem sempre usa tintas negras, imagens negativas, para fixar o mundo circundante. Também sabe recorrer a quadros de uma transparência e elegância que nos tocam e sensibilizam, aqueles que retratam a solidariedade desprendida, a entrega sem fingimento, a partilha sem calculismo. Atitudes que surpreendemos um pouco por toda a obra, associadas a nomes como Paula, Raquel, Soraia, Maria, Angélica, Pedro, o Santo, o Bebé Perguntador.
Fernando Nunes sabe criar personagens capazes de projectarem os seus sentimentos, as suas emoções, as suas convicções e os seus fantasmas. Daí que a leitura destes textos não seja pacífica e, muito menos, meramente lúdica. Ela remete-nos para problemáticas do tempo presente, mas sobretudo do ser e da transcendência. Espectros, medos, sombras e mundos irreais coabitam nestes enredos em precário equilíbrio entre personagem literária e protótipo existencial. O além-morte, a transmigração das almas, a crença ou descrença num Deus omnipresente e bondoso, – são alguns desses enigmas e mistérios com que o Autor se defronta e se debate.
Que estes breves e desalinhados tópicos sirvam para aguçar a curiosidade do leitor, que não sairá defraudada. Muito do que aqui se pode ler corresponde fielmente ao muito com que a vida se encarrega de nos surpreender e nos desafiar. Porque é na vivência dos dias que o Autor vai buscar a energia e a substância com que alimenta a sua escrita.

Braga, Abril de 2010
Cláudio Lima

Uma breve apresentação


Para me conhecerem melhor, deixo-vos o texto da contra-capa da publicação do meu primeiro livro, aliás, um bebé literário que nasceu no dia 1 de Julho do ano de 2010.
Como ainda me restam cerca de cem exemplares para venda, refiro alguns pormenores para esclarecimento de quem o desejar adquirir.
Obra: contos.
Total de páginas: 120.
Encadernação com excelente qualidade.
Preço: 10€
Para comprar o livro contacte-me pelo e-mail: fernandonunes.pt@gmail.com

Sombras da Alma
Fernando Nunes
TARTARUGA - Manuela Morais
© Fernando Nunes, 2010
fernandonunes.pt@gmail.com
Esta edição pertence, totalmente, ao seu autor
© Capa de ESPIGA Pinto
Desenho da capa de ESPIGA Pinto, exclusivo para esta 1.ª edição
Direitos de reprodução, tradução e adaptação, reservados para todos os países
1ª edição: 1.000 exemplares
ISBN: 978-989-8057-21-1
Depósito legal:313227/10


Contra-capa

No ano de 1967 do mês de Abril do dia 16, quando os ponteiros dos relógios assinalavam zero horas e quarenta minutos, um berro vibrante estalou na sala de partos da maternidade Alfredo da Costa. E ele, por detrás da máscara, sorriu e, por breves momentos, foi arrebatado numa onda de ternura, de amor... Já perdera a conta, ao longo da sua carreira de médico parteiro, de quantas criaturas arrancara ao aconchego do ventre das suas mães e as trouxera à luz da vida. E, agora estava ali, esquecido do sarcasmo das anedotas que contara antes de iniciar o trabalho de parto, de olhos esbugalhados a contemplar o recém-nascido a chorar, a pontapear e a esmurrar o vazio. Depois, subitamente, deu meia volta sob os pés, abriu a porta e saiu da sala.
E, assim, nasceu o Fernando José Afonso Nunes, nesse dia em que muitos outros bebés, por todo o planeta, abriam os olhos , pela primeira vez, para iniciarem a viagem dos seus destinos.
Vejo-te aí, aqui, onde és eterno, nesse espaço escoado de tempo. A tua mãe a amamentar-te, a sorrir, está tão feliz. O teu pai, com as palavras cheias de orgulho e de contentamento, fala de ti para os amigos, talvez diga o meu filhote está muito engraçado... E tu meu querido Fernandinho, alimentavas-te, choravas, davas as primeiras risadas e, de certeza, que sonhavas muito, que na tua consciência de bebé revias o mapa da tua existência, para que as fantasias, mais tarde, se tornassem reais. E gatinhaste, balbuciaste as primeiras sílabas, mamã e papá, e deste os primeiros passeios no miradouro do Bairro das Colónias, na cidade de Lisboa... E, agora, tens que crescer rapidamente, tenho poucas linhas para te recordar.
Que idade tens? Cinco anos. Contemplas, com os olhos serenos de pureza, a tua irmã bebé, a Paula. Brincaram, zaragatearam e, com a energia do amor, uniram os seus corações de irmãos.
A adolescência, veloz como um relâmpago... E os estudos, e as primeiras paixões, e o gosto pelas actividades desportivas... Ah! Os sonhos que já não são sonhos mas plena felicidade. O rumor do mar, a brisa salgada e azul, azul, a caça submarina. E,  uns anos mais tarde, estou a ver-te, com a destreza de um gato, a escalares uma falésia, a iniciares-te na escalada desportiva.
Dos vinte aos trinta anos, trabalhas e, continuas a sonhar, a praticar desporto... E há sempre os amigos, aliás muitos amigos. E, ainda, tens tempo para alguns divertimentos, para algumas noitadas... Cada momento tão intenso, e, porque os segundos não se diluíram no vazio do esquecimento, a tua vida é real.
Já estás com trinta e um anos de idade. Desesperado, talvez estejas a chorar... sentes-te no fundo de um poço inundado de trevas, porque uma doença atacou os teus olhos. Mas não te deixas afogar, lutas, encontras novas montanhas para galgares. Aprendes a conviver com a cegueira, a orientares-te com uma bengala, a utilizar um shofware para poderes trabalhar com o computador.
E o tempo, passa, passa... E, subitamente, estás a frequentar o curso de formadores.
Movimenta, com a agilidade de um maestro, os braços e vai ensaiando uma valsa de passos miudinhos e as palavras sáiem-lhe energeticamente, entusiasticamente... És tu Fernando, afinal de contas, sou eu, na Fundação Raquel e Martin Sain, a ensinar outros cegos a trabalhar com o computador.
Para os meus pais, a minha irmã e toda a minha família, os meus amigos, os meus ex-formandos, enfim, todos, todos os que se têm cruzado na minha existência, que me fazem compreender agora, neste momento de transcendência, que sou um simples átomo flutuando na dança cósmica de constantes transmutações. Deixo-vos aqui, apenas, uma palavra. Bem-haja, que as vossas vidas sejam abençoadas.


Literatura sem limites


Boa tarde, seja bem-vindo a este pequenino, mas acolhedor espaço que pretende divulgar as obras de muitos escritores que, como eu, optaram por publicar os seus livros numa editora não comercial. Ou seja o autor é quem paga os custos da publicação, assim como também é o responsável pela divulgação da obra e a venda dos exemplares.
E um dia escreve-se meia dúzia de palavras, uma frase, um parágrafo... E, principalmente, remexe-se na intimidade do ser, do âmago da vida, talvez se esgravate as arestas das nossas psicoses ou, ao invés, encontramos matrizes de forças divinais... E vislumbramos intensamente o mundo que nos circunda e, abandonando o nosso egocentrismo, diluímo-nos nas ideias, nos pensamentos, nas frustrações e nas vitórias das personagens que inventamos, que criamos, que de alguma forma se tornam verdadeiras como o real, o real que a cada pulsação do coração já é simples recordação, simples memória...
Enfim, o ecrã vai-se enchendo de letrinhas, de palavras, de sentimentos, às vezes metáforas irónicas ou coisas emotivas... Depois lemos e relemos, mostramos o texto à mãe, ao pai, aos irmãos, aos amigos e, surpreendentemente, ouvimos, “Eh pá, porreiro”, “Muito bem, escreves com alma””, Gostei, gostei mesmo, deves continuar a escrever e pensar seriamente em publicar”.
E no ventre dos sonhos começamos a gerar o nosso primeiro filho literário...
Finalmente, o projecto concretiza-se, retiramos uns trocos das nossas economias e, por conta própria, publicamos o primeiro livro.
Às vezes desanimamos, pois ter quinhentos ou mil exemplares encafuados no canto da casa, para os vender não é, sem dúvida, tarefa fácil. Por isso, surgiu-me a ideia de criar este espaço onde todos os autores independentes possam expor as suas obras.
Fica assim feito o convite aos autores para deixarem aqui uma breve apresentação dos vossos livros, bem como os detalhes para a venda dos mesmos.